22 de julho de 2011

Da minha lavoura literária:


PROSAPOEMA


I

Bem que poderia dizer algo assim: “Puxa, menina, desde o dia em que...” Não! Soaria simples demais, intenção direta que confundiria com o que possivelmente chamaríamos – ou mesmo consideramos – vulgaridade. Talvez a expressão apropriada seria, como canta um poeta, “a sensação de ter visto, para além do visível, alguma coisa em sua forma pura ou na sua não-forma, única e una”. E, compreenda, tento não abstrair para não despencar no vácuo. Citei “sensação”. Logo, não fujo.

II
Seu jeito me encanta e me faz brotar o canto que pode transformar-se em pranto, tal o inatingível do momento – ânsia de estender as mãos e não tocar, pois é próprio dos sentidos o palpar, o cheirar, como animal na abordagem. Mas isso o homem complica e se fecha e então esconde o animal e sorri todo o seu mal e morre devagar. E é todo grito que os outros escarnecem por aborrecer a moral do dia.

III
Sabe aquele azul que dói, que reverbera? Pois é, Deus privilegiou, deu-o de presente aos olhos dela. A ponto de o poeta mergulhar neles para refrigerar a sua alma combalida de muitas despedidas e resolver um cansaço de milênios. Farto de vigílias solitárias, azulou-se de auroras, rompendo a tessitura dos musgos que tolhem o instinto.

Ricardo Augusto dos Anjos

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