Terra do Sal
Ricardo Augusto dos Anjos
I
O esqueleto do barco
arco morto na Lagoa
é sinal íntimo
que decifro ao tempo
em que árvore e vento
curvam-se ao sal.
é sinal íntimo
que decifro ao tempo
em que árvore e vento
curvam-se ao sal.
II
Mar fora da barra
estronda em Cabo Frio.
O vento enche a praia
e os rostos de salitre.
O vento enche a praia
e os rostos de salitre.
O iodo açula o sexo
-- incontrolável biltre --
que detecta em seu radar
o corpo mais sutil.
Mar fora da barra
envolve tudo num grito.
De amor.
III
Cabo Frio, ouro, ouro
avança para o mar -- cristal equóreo
onde o mistério atrai os homens
que extraem do sal da vida o pão- de- cada- dia.
onde o mistério atrai os homens
que extraem do sal da vida o pão- de- cada- dia.
(A esperança brota do horizonte na aurora.)
O progresso mina duros corpos de suor
-- mapa de amor -- com vestígios de fundas raízes.
Meus olhos te contemplam, Cabo Frio telúrico;
sob um sol marca de fogo
o teu destino:
de sal e sol
ávida vida!
o teu destino:
de sal e sol
ávida vida!
Breve canção de promessa
após aquele encontro numa
tarde excelente de sábado
Eu vou. Um dia, eu vou.
Até a sua casa. Olhar tanto pra você.
E me deitar. Descansar na sua rede.
Me enredar no seu corpo. Escrever na parede
os versos do nosso amor. Com o sangue do meu peito
que sua unha arranhar. E matar a sede braba.
E matar a sede braba que um sente pelo outro.
Isso aí
(Saber) envelhecer é uma arte
da qual não sou capaz.
Envileço.
Anna
[a Bertha Klüppel]
Da flor nasceu o fruto
em terras de Israel.
É Anna de Bertha só.
É Anna de Bertha só
que se exilou porque quis
reciclar a sua alma.
É Anna de Bertha só
que já acena às origens
num êxodo às avessas.
É Anna de Bertha só
que a gente ama por ser
Anna de Bertha só.
Amo teus poemas, amigo!
ResponderExcluirBelvedere