28 de agosto de 2011

(Saber) envelhecer é uma arte ... da qual não sou capaz



         Terra do Sal



Ricardo Augusto dos Anjos

         I

         O esqueleto do barco
         arco morto na Lagoa
         é sinal íntimo
         que decifro ao tempo
         em que árvore e vento
         curvam-se ao sal.
         II

         Mar fora da barra
         estronda em Cabo Frio.

         O vento enche a praia
         e os rostos de salitre.
         O iodo açula o sexo
         -- incontrolável biltre --
         que detecta em seu radar
         o corpo mais sutil.
         Mar fora da barra
         envolve tudo num grito.
         De amor.



         III




         Cabo Frio, ouro, ouro
         avança para o mar -- cristal equóreo
         onde o mistério atrai os homens
         que extraem do sal da vida o pão- de- cada- dia.
         (A esperança brota do horizonte na aurora.)

         O progresso mina duros corpos de suor
         -- mapa de amor -- com vestígios de fundas raízes.
         Meus olhos te contemplam, Cabo Frio telúrico;
         sob um sol marca de fogo
                                      o teu destino:
                                               de sal e sol
                                                        ávida vida!



Breve canção de promessa
após aquele encontro numa
tarde excelente de sábado

         Eu vou. Um dia, eu vou.
         Até a sua casa. Olhar tanto pra você.
         E me deitar. Descansar na sua rede.
         Me enredar no seu corpo. Escrever na parede
         os versos do nosso amor. Com o sangue do meu peito
         que sua unha arranhar. E matar a sede braba.
         E matar a sede braba que um sente pelo outro.

Isso aí

         (Saber) envelhecer é uma arte
         da qual não sou capaz.
         Envileço.


        
         Anna



                    [a Bertha Klüppel]

         Da flor nasceu o fruto
         em terras de Israel.
         É Anna de Bertha só.
         É Anna de Bertha só
         que se exilou porque quis
         reciclar a sua alma.
         É Anna de Bertha só
         que já acena às origens
         num êxodo às avessas.
         É Anna de Bertha só
         que a gente ama por ser
         Anna de Bertha só.

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