Da minha lírica
1.
Sem avisos você surgiu
para eu logo morrer nos seus olhos
como gaivotas exaustas no litoral de pedras azuis
azuis onde zune o vento que me desperta
do refúgio de mim, onde é impossivelmente
cruel mentir.
Na impaciência de reduzir distâncias
não tenho mais o olhar fixo nos abismos
-- rompi o granito e os musgos que teciam
veias para um sangue gelado e invisível.
Falar de você é falar da minha procura oceânica
de um corpo predisposto a primaveras e tépidas auroras.
Seu mistério é inerente à sua condição
e à minha esperança nesse início de enigma
de estima sem estigma.
A sondagem está à beira do seu corpo
com palavras que explodem silenciosas como lírios
aguardando o pulsar de um íntimo jardim.
2.
Semear sob um sol doméstico
a exatidão de sermos
entre duras memórias.
Entre duras memórias
despejar nos copos
e dos copos aos corpos
uma chuva de palavras.
Uma chuva de palavras
que cristalizam nossas ânsias
de terraplanar caminhos de chegança
sempre pela manhã.
Sempre pela manhã
deixar-me triturar
pelo teu sorriso de piano
solto ao vento da madrugada
que derrama gestos de água.
Com gestos de água
estender as mãos
(aflitos traços de gaivotas
no papel da transparência)
e dourar de suave amor
o próprio rosto humano
do amor.
3.
Se me retraio
é para indagar se teu sorriso largo
traz esfinges entre dentes
ou guilhotina nos lábios.
4.
Sem avisos você surgiu
para eu logo pousar nos seus olhos
como gaivotas exaustas no litoral de pedras azuis
azuis onde zune o vento que me desperta
do refúgio de mim, onde é impossivelmente
cruel mentir.
Na impaciência de reduzir distâncias
não tenho mais o olhar fixo nos abismos
-- rompi o granito e os musgos que teciam
veias para um sangue gelado e invisível.
Falar de você é falar da minha procura oceânica
de um corpo predisposto a primaveras e tépidas auroras.
Seu mistério é inerente à sua condição
e à minha esperança nesse início de enigma
de estima
sem estigma.
A sondagem está à beira do seu corpo
com palavras que explodem silenciosas como lírios
aguardando o pulsar de um íntimo jardim.
5.
Você
já nasceu pronta
-- para as festas e comemorações solenes,
para o charme discreto da burguesia,
para as cintilações do dia e da noite.
Você
nem feia nem bonita
-- simplesmente maravilhosa,
adjetivável:
light, carismática, enigmática,
elegante de sustentável leveza,
socialmente correta.
Seus olhos?
-- agressivamente doces,
expressando um sutilíssimo
brilho de molhado que seduz e excede
qualquer entendimento e recato.
Seus lábios?
-- frutos pró-libido,
mordíveis, apaixonáveis, saborosos,
arquetipicamente pecaminosos.
Irresistível, você.
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