6 de agosto de 2011

A POESIA DE RICARDO AUGUSTO DOS ANJOS


Da minha lírica

[ óleo sobre tela de Andrew Atroshenko]
         1.
         Sem avisos você surgiu
         para eu logo morrer nos seus olhos
         como gaivotas exaustas no litoral de pedras azuis
         azuis onde zune o vento que me desperta
         do refúgio de mim, onde é impossivelmente
         cruel mentir.

         Na impaciência de reduzir distâncias
         não tenho mais o olhar fixo nos abismos
         -- rompi o granito e os musgos que teciam
         veias para um sangue gelado e invisível.

         Falar de você é falar da minha procura oceânica
         de um corpo predisposto a primaveras e tépidas auroras.
        
         Seu mistério é inerente à sua condição
         e à minha esperança nesse início de enigma
         de estima sem estigma.

         A sondagem está à beira do seu corpo
         com palavras que explodem silenciosas como lírios
         aguardando o pulsar de um íntimo jardim.

             2.
         Semear sob um sol doméstico
         a exatidão de sermos
         entre duras memórias.

         Entre duras memórias
         despejar nos copos
         e dos copos aos corpos
         uma chuva de palavras.

         Uma chuva de palavras
         que cristalizam nossas ânsias
         de terraplanar caminhos de chegança
         sempre pela manhã.

         Sempre pela manhã
         deixar-me triturar
         pelo teu sorriso de piano
         solto ao vento da madrugada
         que derrama gestos de água.

         Com gestos de água
         estender as mãos
         (aflitos traços de gaivotas
         no papel da transparência)
         e dourar de suave amor
         o próprio rosto humano
         do amor.

             3.
         Se me retraio
         é para indagar se teu sorriso largo
         traz esfinges entre dentes
         ou guilhotina nos lábios.

            4.
         Sem avisos você surgiu
         para eu logo pousar nos seus olhos
         como gaivotas exaustas no litoral de pedras azuis
         azuis onde zune o vento que me desperta
         do refúgio de mim, onde é impossivelmente
         cruel mentir.

         Na impaciência de reduzir distâncias
         não tenho mais o olhar fixo nos abismos
         -- rompi o granito e os musgos que teciam
         veias para um sangue gelado e invisível.

         Falar de você é falar da minha procura oceânica
         de um corpo predisposto a primaveras e tépidas auroras.
        
         Seu mistério é inerente à sua condição
         e à minha esperança nesse início de enigma
         de estima
         sem estigma.

         A sondagem está à beira do seu corpo
         com palavras que explodem silenciosas como lírios
         aguardando o pulsar de um íntimo jardim.

             5.
         Você
         já nasceu pronta
         -- para as festas e comemorações solenes,
         para o charme discreto da burguesia,
         para as cintilações do dia e da noite.

         Você
         nem feia nem bonita
         -- simplesmente maravilhosa,
         adjetivável:
         light, carismática, enigmática,
         elegante de sustentável leveza,
         socialmente correta.

         Seus olhos?
         -- agressivamente doces,
         expressando um sutilíssimo
         brilho de molhado que seduz e excede
         qualquer entendimento e recato.

         Seus lábios?
         -- frutos pró-libido,
         mordíveis, apaixonáveis, saborosos, 
         arquetipicamente pecaminosos.
        
         Irresistível, você. 

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