17 de junho de 2011

O MAR É MULHER

QUEM DIRIA, HEIN? O MAR É MULHER. MELHOR ASSIM.




Ricardo A. dos Anjos

                                    
                                                     I
No princípio o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas. Verbo, ordenou que houvesse uma expansão no meio das águas. A essa expansão, Deus denominou Céu. E às águas, Mares.

Agora, segundo o Apocalipse de João, aproxima-se aceleradamente o dia e a hora em que o mar devolverá seus mortos para o Juízo Final; para a grande ou nenhuma possibilidade de resgate.

                                                  II
Bem, mas entre o Início e o Fim, o mar – superfície ou profundeza abissal – sempre exerceu fortíssima atração sobre o homem (sobretudo os do sexo masculino, não genérico) que o transformou numa vasta esteira navegável de conquistas.

Bem, apesar da invasão humana (agora é genérico, não só do homem macho, aventureiro), o mar permanece indômito e insondável (ou melhor, sondável mas sem muitas e satisfatórias respostas) e misterioso e se manifesta, vez por outra, rebelde, tormentoso. E, por isso, cada vez mais atraente.

E de tão sedutor, é sedutora. Romântico, é romântica, tem o poder mágico e trágico da sedução feminil, sob um pueril céu de anil, viu? (Só pra rimar...)

Fascinante é o mar. Isto é: a mar. Como fascinante é amar, sem trocadilhos, trocar de ilhas, sem troçar das filhas nativas que se doam num doce doer. Filantrópicas – filhas dos trópicos – cujos olhos são piscinas de águas claras onde mergulho meu desejo.

Enfim, mar é mulher. A maresia, seu mênstruo, cioso cio.

O francês sacou isso e canta literalmente, litoralmente, a mulher que é mar, o mar que é mulher. Amante: la mer! Esposa e mãe: la mère!

E por muitíssimo amar a mar, muitos morrem.
Afogados. Afogueados.                                                         

Os que não sabem nadar, ah! estes ficam mediocremente a salvo

4 comentários:

  1. Anónimo disse...
    Ave, Ricardo dos Anjos! Lindíssimo texto. Obrigada.
    Bjs
    Belvedere
    19 de Junho de 2011 06:49

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  2. Fátima Almeida disse...
    mar avilhoso. um devoto de Afrodite, a meiga, a Vênus do Amor. A estrela a que se deve amar. Há muito não lía texto mais sugestivo e acolhedor.
    19 de Junho de 2011 22:03

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  3. Filipa Saanan disse...
    Uma crônica de encantar. Louva- mar-a...mar.
    Filipa Saanan
    20 de Junho de 2011 10:23

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  4. Revista Literária disse...
    Salve, Salve Poeta.
    Que honra sua presença em Literacia.
    Obrigada por partilhar esta delícia de crônica.
    Que seja sempre, sua estadia aqui.
    anamerij

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